quinta-feira, 1 de maio de 2014







   O artista da era eletrônica comunga com um tempo em que há o sentido de cooperação entre homem e a natureza, traduzido em arte”
Paulo Laurentiz


  Paulo Laurentiz (São Paulo SP 1953 - 1991). Artista visual, professor, graduado em artes pela Faap, São Paulo, e em propaganda pela Escola Superior de Propaganda e Marketing. Fez mestrado em comunicação e semiótica pela PUC/SP com a dissertação O Cinema Sem Planos, e doutorado pela mesma instituição com a tese "A Holarquia do Pensamento Artístico". Lecionava desde 1988 no Instituto de Artes (Departamento de Multimeios e Faculdade de Artes Plásticas) da Unicamp, em cursos de pós-graduação.
  Foi importante articulador de acontecimentos na área de arte/tecnologia, além de ter sido também um dos poucos que teorizaram sobre esse assunto no Brasil em seu livro/tese A Holarquia do Pensamento Artístico que é atualmente  um clássico na área. Foi também  um  dos fundadores do IPAT ( Instituto de Pesquisa em Arte e Tecnologia ), e teve papel  fundamental no desenvolvimento da arte eletrônica no Brasil. Para ele: Abrandar tecnologia significa, em termos de pensamento operativo, encontrar funções similares entre as organizações sintáticas dos equipamentos (hardware e software) e as forças universais explicitadas no insight. Desta maneira, não há uma interferência interna de uma linguagem sobre as qualidades de outra linguagem . Os discursos se equivalem, gerando sentimentos similares diante do fenômeno em si, ou da manifestação cultural produzida.
   Esteve à frente de alguns dos mais importantes eventos na área de arte-comunicação.
  Laurentiz  afirmou em seu livro/tese “A Holarquia do Pensamento Artístico” que  o artista da era eletrônica comunga com um tempo em que há o sentido de cooperação entre homem e natureza, traduzido em arte. Esse tempo traduz a passagem da relação olho-mão do artista da era industrial para a relação mente-mundo do artista da era eletrônica. Esse seria o papel do artista que estaria esclarecendo a caixa preta da tecnologia e a transformando em linguagem de comunicação.
  Na passagem de 1990/1991, Laurentiz coordenou um evento que tinha por finalidade uma produção conjunta entre brasileiros e japoneses nas 12 horas de intervalo entre a meia noite japonesa e a brasileira, entre o ano novo lá e aqui. O evento foi organizado para que de hora em hora fossem enviados arquivos com imagens  e som , nas quais  eles interferiam e vice-versa. Todos os trabalhos gráficos, sem qualquer combinação prévia, tinham uma referência à lua. Isso porque a lógica de elaboração do fax esteve atrelada à percepção de que a Terra somente pode ser observada ‘sem tempo’ se estivermos fora dela. E o primeiro astro que permitiria isso é a lua.
  A estrutura do evento se repetiu por ocasião do “L'Oeuvre du Louvre”, momento em que artistas de Campinas enviaram ao Louvre, por fax, imagens, com o objetivo de “invadir o museu”. As duas experiências foram pioneiras nas experiências com arte telemática.

                       Arte- fax, a proposta era invadir o museu do Louvre, na França, por fax

    Laurentiz dividiu o pensamento operacional humano em três ciclos distintos, que  se refletiram e se refrataram nas diferentes posturas de materialização da obra de arte: ciclo pré-industrial, ciclo mecânico e ciclo eletrônico, correspondentes ao período materialista industrial da civilização ocidental. "É nesse período que há a consagração dos valores materiais na cultura ocidental”.
  O ciclo eletrônico, no qual vivemos, é caracterizado não apenas pelas chamadas "novas tecnologias". "Coincide com a procura, pelo homem, de uma outra escala de valores extramaterial, a qual possibilita a própria espécie auto desenvolver-se, reorganizando e reorientando a sua participação na vida com o universo." Esta procura se dá com o questionamento da crença irrestrita e dogmática de que o conhecimento científico cartesiano seria o propulsor da evolução humana. Não que o cientificismo da passagem do século XIX para o XX fosse hegemônico e incontestável,ou que essa noção sobre desenvolvimento tenha desaparecido dos discursos dominantes, mas os acontecimentos provenientes das duas Grandes Guerras evidenciaram o "fato de o homem, apesar de estar no auge de sua sabedoria material, não apresenta o mesmo desenvolvimento em seu poder crítico, quase pondo fim a sua própria história." .(LAURENTIZ 1991)

               Paulo Laurentiz, quatro quadros de Untitled,
               transmissão de TV de varredura lenta, 1986.



Fontes: www.iar.unicamp.br/midialogia
www.scielo.br
Postado por : Renata Sanches



Um comentário:

  1. Um artista complexo que nos deixa uma base teórica com o livro que foi citado pelas colegas, espero um dia ter tempo e oportunidade para ler essa obra dele.

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