“O artista da era eletrônica comunga com um tempo em que há o sentido de cooperação entre homem e a natureza, traduzido em arte”
Paulo Laurentiz
Paulo
Laurentiz (São Paulo SP 1953 - 1991). Artista visual, professor, graduado em
artes pela Faap, São Paulo, e em propaganda pela Escola Superior de Propaganda
e Marketing. Fez mestrado em comunicação e semiótica pela PUC/SP com a
dissertação O Cinema Sem Planos, e doutorado pela mesma instituição com a tese "A Holarquia do Pensamento Artístico". Lecionava desde 1988 no Instituto de Artes
(Departamento de Multimeios e Faculdade de Artes Plásticas) da Unicamp, em
cursos de pós-graduação.
Foi importante articulador de acontecimentos na área de
arte/tecnologia, além de ter sido também um dos poucos que teorizaram sobre
esse assunto no Brasil em seu livro/tese A Holarquia do Pensamento Artístico que é atualmente um clássico na área. Foi também um dos
fundadores do IPAT ( Instituto de Pesquisa em Arte e Tecnologia ), e teve papel fundamental no desenvolvimento da arte
eletrônica no Brasil. Para ele: Abrandar tecnologia significa, em termos de
pensamento operativo, encontrar funções similares entre as organizações
sintáticas dos equipamentos (hardware e software) e as forças universais explicitadas
no insight. Desta maneira, não há uma interferência interna de uma linguagem
sobre as qualidades de outra linguagem . Os discursos se equivalem, gerando
sentimentos similares diante do fenômeno em si, ou da manifestação cultural
produzida.
Esteve à
frente de alguns dos mais importantes eventos na área de arte-comunicação.
Laurentiz afirmou em seu livro/tese “A Holarquia do
Pensamento Artístico” que o artista da
era eletrônica comunga com um tempo em que há o sentido de cooperação entre
homem e natureza, traduzido em arte. Esse tempo traduz a passagem da relação
olho-mão do artista da era industrial para a relação mente-mundo do artista da
era eletrônica. Esse seria o papel do artista que estaria esclarecendo a caixa preta da tecnologia e a transformando em
linguagem de comunicação.
Na passagem de
1990/1991, Laurentiz coordenou um evento que tinha por finalidade uma produção
conjunta entre brasileiros e japoneses nas 12 horas de intervalo entre a meia
noite japonesa e a brasileira, entre o ano novo lá e aqui. O evento foi
organizado para que de hora em hora fossem enviados arquivos com imagens e som , nas quais eles interferiam e vice-versa. Todos os trabalhos
gráficos, sem qualquer combinação prévia, tinham uma referência à lua. Isso
porque a lógica de elaboração do fax esteve atrelada à percepção de que a Terra
somente pode ser observada ‘sem tempo’ se estivermos fora dela. E o primeiro
astro que permitiria isso é a lua.
A estrutura do evento
se repetiu por ocasião do “L'Oeuvre du Louvre”, momento em que artistas de
Campinas enviaram ao Louvre, por fax, imagens, com o objetivo de “invadir o
museu”. As duas experiências foram pioneiras nas experiências com arte telemática.
Arte-
fax, a proposta era invadir o museu do Louvre, na França, por fax
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Laurentiz
dividiu o pensamento operacional humano em três ciclos distintos, que se refletiram e se refrataram nas diferentes
posturas de materialização da obra de arte: ciclo pré-industrial, ciclo
mecânico e ciclo eletrônico, correspondentes ao período materialista industrial
da civilização ocidental. "É nesse período que há a consagração dos
valores materiais na cultura ocidental”.
O ciclo eletrônico,
no qual vivemos, é caracterizado não apenas pelas chamadas "novas tecnologias".
"Coincide com a procura, pelo homem, de uma outra escala de valores extramaterial,
a qual possibilita a própria espécie auto desenvolver-se, reorganizando e reorientando
a sua participação na vida com o universo." Esta procura se dá com o
questionamento da crença irrestrita e dogmática de que o conhecimento
científico cartesiano seria o propulsor da evolução humana. Não que o cientificismo
da passagem do século XIX para o XX fosse hegemônico e incontestável,ou que
essa noção sobre desenvolvimento tenha desaparecido dos discursos dominantes, mas
os acontecimentos provenientes das duas Grandes Guerras evidenciaram o
"fato de o homem, apesar de estar no auge de sua sabedoria material, não
apresenta o mesmo desenvolvimento em seu poder crítico, quase pondo fim a sua
própria história." .(LAURENTIZ 1991)
Paulo Laurentiz,
quatro quadros de Untitled,
transmissão de TV de
varredura lenta, 1986.
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Fontes: www.iar.unicamp.br/midialogia
www.scielo.br
Postado por : Renata Sanches
Um artista complexo que nos deixa uma base teórica com o livro que foi citado pelas colegas, espero um dia ter tempo e oportunidade para ler essa obra dele.
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